sexta-feira, novembro 7

Zhou Enlai

O Ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, quando questionado nos anos 60 acerca da importância da Revolução Francesa, decidiu abster-se de quaisquer comentários por achar que não tinha passado tempo suficiente sobre os acontecimentos.
Quando os líderes do Mundo Livre se arrogam desta missão principesca de levar a luz da civilização a outras regiões, parecem esquecer-se deste facto essencial. Os valores saídos da Revolução Francesa não tem o peso cultural para fazerem sentido que não na Europa e nos Estados Unidos.
A verdade verdadinha é que nenhum sistema democrático poderia sobreviver num mundo em que a concorrência fosse leal e em que os países que partem para o jogo em vantagem decidissem abrir mão dessa vantagem em nome de um sistema menos legalisticamente correcto, mas mais intelectualmente honesto.
Não nos enganemos. Se o sistema e os valores ocidentais prevalecerem, só existirá um vencedor: o Ocidente; e nem sequer é preciso recorrer ao argumento de que as relações entre seres humanos não podem evitar esse decaimento hobbesiano se foi exactamente com base na exaltação da desigualdade que nasceu o abençoado sistema das liberdades. O sistema liberal não foi concebido como forma de corrigir assimetrias... ele expressamente depende das assimetrias. Foi dele que nasceram o Imperialismo britânico, o proteccionismo realista alemão e o comunismo soviético apenas veio provar que tentar forçar o esbatimento dessas assimetrias leva ao colapso inexorável de todo o sistema.
Partamos do princípio, meramente académico, que os Estados Unidos levaram a cabo as intervenções no Iraque o no Afeganistão apenas como forma de assegurar um regime plural e democrático nesses países. Os valores ocidentais, como o pluralismo e a democracia, nunca deixarão de reflectir uma mundivisão orgulhosa e paternalista e é essa a principal característica desta lógica quase evangelizadora de quem os defende quase como sacrossantos. O mundo é assimétrico, mas não na medida em que nós queremos que ele seja. Tudo o que o iraquiano médio quer NÃO é ir para casa ver televisão depois de um dia de trabalho duro e honesto como se ouve dizer ao soldado médio americano. Eles, e ainda bem que assim é, não pensam e não são como nós embora seja esse o discurso oficial. E se, na óptica do jornalista ocidental, “as coisas parecem querer voltar ao normal nas ruas de Bagdad”, então, e não hajam dúvidas acerca disso, as coisas para os iraquianos devem parecer tudo menos normais.
Miguel Maia

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