quinta-feira, novembro 18

Pois então, discuta-se

Nos últimos posts de um blog do Público sobre as presidenciais americanas encontram-se algumas reacções aos resultados das eleições na América, demasiado azedas é certo, que vão na linha do que eu penso.
As eleições deste ano na América marcaram uma mudança que nem as do ano 2000 tinham vincado. Nessa altura, para além de todas as dúvidas que se possam ter levantado acerca dos resultados finais, a opção americana ainda era um tiro no desconhecido. Dos dois candidatos, é natural que George W. Bush fosse o mais emocionante, o candidato de quem se podia esperar algo de diferente dos anos Clinton.
E lá nisso as nossas espectativas não sairam defraudadas. A administração Bush, na minha opinião, conseguiu corroer o capital (quer económico quer político e diplomático) que os Estados Unidos tinham como potência vencedora da Guerra Fria e à volta da qual uma nova esperança de paz e de humanismo se podia basear. É até estranho que isso tenha acontecido. Afinal de contas o mundo era um local onde a segurança não era uma questão importante e onde um boom excessivo da economia.com tinha provocado uma recessão que os sucessos anteriores iam conseguiam amparar. Os Estados Unidos propriamente ditos, tinham o exército mais forte e mais espalhado pelo mundo que alguma vez se tinha conhecido na nossa história, o Iraque (o nosso Iraque) continuava com o Saddam, mas com uma capacidade militar que havia sido mais atacada e neutralizada durante a "paz" de Clinton do que durante a I Guerra do Golfo. Não havia crise económica ou militar que justificasse esta guinada para o radicalismo religioso, moralista, unilaterale belicista que justificasse o recurso a uma presidência americana naquele estilo.
Mesmo assim, foi o que aconteceu.
Pois bem, quatro anos volvidos, estava na hora de reparar no erro evidente e de retomar o caminho. A campanha de John Kerry, que basicamente se estava a candidatar à presidência desde o dia em que tinha nascido, foi uma boa campanha. Nada do que Kerry defendia era incoerente ou flexível com a defesa dos valores da liberdade ou da igualdade... mais do que a homofobia, por exemplo, alegremente laudada pelo seu rival. Disse que apoiaria a Guerra no Iraque se se provasse que estavam lá armas (até porque se recusava a que tropas fossem enviadas para um conflito sem que o backing do Senado). Quem voltou atrás com a palavra não foi John Kerry quando retirou o seu apoio à guerra quando se tornou patente a falta das armas, quem voltou atrás foi o presidente Bush quando enviou o seu país para a Guerra por causa de um perigo que o seu predecessor (e muito acusado foi ele por causa dos ataques diários ao Iraque) já tinha removido. E fê-lo de forma unilateral e no mais gritante desrespeito pela ordem internacional e pelas Nções Unidas (o facto da França e da Alemanha não quererem participar foi, de certeza, não mais do que uma manobra estratégica... tivessem as condições sido diferentes e lá os teríamos visto).

O senador Kerry não mentiu, não se enganou, não foi incoerente ou fraco e se o problema dele foi esse, então o problema não é dele... é da América.
Se John Kerry perdeu as eleições, não foi porque não tenha sido claro, ou porque não tenha sido carismático o suficiente. A afluência dos eleitores foi prova disso. Esta eleição foi o espelho da América actual: um país conservador, de pessoas superficiais e estupidificadas e será, digo eu, a razão da sua decadência.

Miguel Maia

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