sexta-feira, junho 24

Parallax

É falso dizer (e nunca ninguém aqui o disse) que a esquerda democrática e a direita democrática têm pouco que as distinga. É um discurso recorrente, mas para mim é falso. O que acontece é que a esquerda moderada partilha as ideias da direita quanto à economia e o funcionamento do aparelho do estado (salvo algumas excepções, como as scuts e os hospitais público-privado, que fazem sempre as mesmas capas de jornal) e a direita reformista partilha as ideias da esquerda quanto às obrigações inalianáveis ao estado na correcção de desiquilíbrios e injustiças sociais.

Qual é a diferença, então? A diferença é tão subtil e tão forte como o Erro de Parallax.
Quem perdeu o tempo a estudar física e química e essas coisas (e nem era preciso ter perdido muito) sabe que sempre que se mede a quantidade de líquido numa proveta graduada, temos que colocar os olhos mesmo à frente da graduação, e não olhar de cima ou de longe para a proveta.
Por capilaridade, os líquidos sobem ligeiramente a parede da proveta e, se não descermos os olhos ao mesmo nível do líquido, vamo-nos deixar enganar por um erro de percepção.

Aqui acontece a mesma coisa. Todos sabemos qual é o problema, até sabemos o nome da solução. Só que alguns vêem o problema de longe ou de cima e, por isso, dão atenção à parte errada do que estão a ver. Eu prefiro olhar o problema de frente e ver exactamente do que se trata.

Não é que não concorde com o que o Arouca disse. Digo-o sem problemas: o Arouca tem razão. Só acho que falar de governos, ou de Portugal e o Futuro, sem falar da necessidade extrema de formar e principalmente educar os portugueses, leva rigorosamente a lado nenhum.
Se a educação em Portugal continuar a mesma, não há cortes de despeza ou ganhos na receita que resistam.
Tudo o resto é perder tempo e eu, que já perdi tanto, não vou perder mais.

Miguel Maia

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