Aborto
Prometido é devido.
Começa a ser confrangedora a quantidade de assuntos em que eu e a Joana convergimos, pelo que urge que os meus outros colegas de blog contribuam com as suas pinceladas, normalmente de uma pinta bushista e negra. no pun intended.
Considero, e dessa posição não me demovo, que o sexo é a expressão mais sublime do amor entre duas pessoas. Em coerência, não posso deixar de achar que algo como "a expressão mais sublime do amor entre duas pessoas" seja uma coisa com implicações e consequências sociais. É claro que as tem.
Há 8 anos, ainda o meu cartão de eleitor estava por usar, fui a uma urnda de voto e disse não à despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Nenhuma das razões e das convicções que me levaram a uma estreia tão auspiciosa do meu cartão de eleitor se alterou nestes 8 anos.
Ainda acho que uma sociedade que desiste de promover o amor (e o sexo) como uma forma elevada de sentir a humanidade é uma sociedade que desiste de se querer elevar para além da gritaria.
Diziam-me na altura que torná-los ilegais não ia fazer com que desaparecessem.
Respondia, na minha arrogância pós-juvenil, que tornar o furto ilegal nunca significou o fim dos furtos e que não era por isso que se devia ir a correr despenalizar o furto. Quando uma coisa é errada, é errada e acabou.
Diziam-me que era uma opção da mulher.
Isso sempre me pareceu, mais do que feminista, um comentário machista, como se os homens não tivessem nada a ver com as gravidezes indesejadas e fosse tudo culpa das mulheres. É um problema e uma opção, caso exista, de duas pessoas: um homem e uma mulher.
Diziam-me que a esquerda estava do lado da despenalização.
Se bem me lembro, o progresso social e, porque não?, ético das nações ainda é um valor da esquerda moderna. Terão mudado os desafios e, como tal, as respostas, mas ainda é de esquerda a luta por uma sociedade com menos gravidezes adolescentes, com menos crianças a crescer sem as estruturas e os bens que as ajudem a superar-se como cidadãos e como homens e mulheres. Ainda é de esquerda querer uma sociedade em que o aborto não faça sentido.
Mas há incoências entre o meu discurso e o que sinto.
Primeira incoerência: a mais teórica.
Esta sacralização do sexo é baseada no facto de ser o único meio aceite universalmente pelo qual a humanidade ainda brinca com o tempo e com o fim, essas piadas crueis. Tudo o resto é uma questão de fé.
Se não acho, portanto, que o sexo e o amor sejam apenas uma agradável coincidência, será que acho que o sexo só faz sentido numa situação de pleno amor? Incoerentemente, não. Acredito que possa fazer muito sentido o sexo pelo sexo. Nem sequer me vou tentar explicar, de tão óbvio que "o prazer pelo prazer" me parece. Mas é incoerente.
Segunda incoerência: a menos teórica.
Se sou contra a despenalização, então devia ser a favor da prisão para quem pratica e, mais ainda, para quem a realiza e não sou. Nem num caso, nem noutro.
Não podia estar mais longe de achar que uma mulher que aborta merece a prisão. Merece ajuda, muita, dependendo dos casos, obviamente. Não sou capaz de julgar quem faz um aborto porque tem que o fazer e não sou capaz de tolerar os ignóbeis números de mulheres que vão parar ao hospital por aborto feito em condições igualmente ignóbeis.
Por tudo isso, acabo transformado esta posta num pedido. Ainda não sei como vou votar e, estando hoje muito mais perto do sim do que alguma vez estive, acredito nas razões que me levaram a dizer não, esses 8 anos entretanto passados. No meio, o voto em branco, que não acredito que vá ser a minha resposta desta vez.
Por isso, façam-me o favor de discutir.
Começa a ser confrangedora a quantidade de assuntos em que eu e a Joana convergimos, pelo que urge que os meus outros colegas de blog contribuam com as suas pinceladas, normalmente de uma pinta bushista e negra. no pun intended.
Considero, e dessa posição não me demovo, que o sexo é a expressão mais sublime do amor entre duas pessoas. Em coerência, não posso deixar de achar que algo como "a expressão mais sublime do amor entre duas pessoas" seja uma coisa com implicações e consequências sociais. É claro que as tem.
Há 8 anos, ainda o meu cartão de eleitor estava por usar, fui a uma urnda de voto e disse não à despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Nenhuma das razões e das convicções que me levaram a uma estreia tão auspiciosa do meu cartão de eleitor se alterou nestes 8 anos.
Ainda acho que uma sociedade que desiste de promover o amor (e o sexo) como uma forma elevada de sentir a humanidade é uma sociedade que desiste de se querer elevar para além da gritaria.
Diziam-me na altura que torná-los ilegais não ia fazer com que desaparecessem.
Respondia, na minha arrogância pós-juvenil, que tornar o furto ilegal nunca significou o fim dos furtos e que não era por isso que se devia ir a correr despenalizar o furto. Quando uma coisa é errada, é errada e acabou.
Diziam-me que era uma opção da mulher.
Isso sempre me pareceu, mais do que feminista, um comentário machista, como se os homens não tivessem nada a ver com as gravidezes indesejadas e fosse tudo culpa das mulheres. É um problema e uma opção, caso exista, de duas pessoas: um homem e uma mulher.
Diziam-me que a esquerda estava do lado da despenalização.
Se bem me lembro, o progresso social e, porque não?, ético das nações ainda é um valor da esquerda moderna. Terão mudado os desafios e, como tal, as respostas, mas ainda é de esquerda a luta por uma sociedade com menos gravidezes adolescentes, com menos crianças a crescer sem as estruturas e os bens que as ajudem a superar-se como cidadãos e como homens e mulheres. Ainda é de esquerda querer uma sociedade em que o aborto não faça sentido.
Mas há incoências entre o meu discurso e o que sinto.
Primeira incoerência: a mais teórica.
Esta sacralização do sexo é baseada no facto de ser o único meio aceite universalmente pelo qual a humanidade ainda brinca com o tempo e com o fim, essas piadas crueis. Tudo o resto é uma questão de fé.
Se não acho, portanto, que o sexo e o amor sejam apenas uma agradável coincidência, será que acho que o sexo só faz sentido numa situação de pleno amor? Incoerentemente, não. Acredito que possa fazer muito sentido o sexo pelo sexo. Nem sequer me vou tentar explicar, de tão óbvio que "o prazer pelo prazer" me parece. Mas é incoerente.
Segunda incoerência: a menos teórica.
Se sou contra a despenalização, então devia ser a favor da prisão para quem pratica e, mais ainda, para quem a realiza e não sou. Nem num caso, nem noutro.
Não podia estar mais longe de achar que uma mulher que aborta merece a prisão. Merece ajuda, muita, dependendo dos casos, obviamente. Não sou capaz de julgar quem faz um aborto porque tem que o fazer e não sou capaz de tolerar os ignóbeis números de mulheres que vão parar ao hospital por aborto feito em condições igualmente ignóbeis.
Por tudo isso, acabo transformado esta posta num pedido. Ainda não sei como vou votar e, estando hoje muito mais perto do sim do que alguma vez estive, acredito nas razões que me levaram a dizer não, esses 8 anos entretanto passados. No meio, o voto em branco, que não acredito que vá ser a minha resposta desta vez.
Por isso, façam-me o favor de discutir.
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