terça-feira, outubro 24

The Thin Red Line

Não sei se um zigoto é uma vida humana. Pergunto-me muitas vezes (umbiguisticamente claro) quando é que comecei a ser eu. Imagino sempre que eu comecei a ser eu no momento em que se soube que eu ia nascer. Não por ganhar uma existência física, real, mas porque desde esse dia fui importante, fundamental até (modéstia à parte), para toda uma pequena multidão de pessoas de que é feita a minha família.

Do mesmo modo, acredito, no dia em que souber que vou ser Mãe, o meu filho será o meu filho. E desta forma, quiçá de uma forma por demais conservadora e emotiva, não entendo, não compreendo e dificilmente aceito o aborto.

No entanto, há uma linha, muitas vezes ténue, entre aquilo que eu aceito e aquilo que é legal. Entre aquilo que eu entendo e aquilo que é legal.

Se me perguntarem se olho para alguém que faz um aborto como um criminoso, como alguém que deve pagar uma pena, não, não olho. Condeno a sua atitude, como condeno muitas outras. Mas dificilmente julgarei essa pessoa digna de um castigo imposto por lei, que deva ser posta de parte. Não acho que o aborto seja uma decisão que se tome de ânimo leve, nem que seja alguma vez um procedimento médico tão simples que não deixe sequelas psicológicas na mulher que o pratica. Que não seja em si, de certa forma, a pena daqueles que a ele recorrem.

Num mundo perfeito, poderiamos dizer a essas mães que não o querem ser, que cuidaremos desses filhos, que alguém os quer já, mesmo que sejam um zigoto apenas. Mas não podemos. E, chamada a decidir - se tratar da segunda via do cartão de eleitor a tempo - voto sim. Não pelo dramalhão dos "pobrezinhos", não apenas pela justiça social que permite a uns fazerem abortos em clínicas assépticas no estrangeiro e a outros remete para um vão de escada. Voto sim, de uma forma meramente emocional, intuitiva, talvez.

1 Comentários:

Blogger AA disse...

bem precisamos de vozes calmas...

10/25/2006 2:10 da tarde  

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