quinta-feira, novembro 18

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O post do meu amigo Miguel Maia levanta tantas questões que há-de ser difícil ir a todas. Mas tentemos. A eleição de George W. Bush e a derrota do senador Kerry são um problema da América, sim senhora. E, meu amigo Miguel, parece que isso te custa a aceitar. Dizer-se que os resultados provam a estupidez dos americanos e a decadência da América é uma questão de opinião, e, sem te querer insultar, muito facciosa. Só porque não têm a tua opinião, ou a tua maneira de ver as coisas, pensam mal, são cegos, estão iludidos, são umas bestas. E parece que te esqueces que metade dos votantes partilham o teu ponto de vista, e expressaram-no e não só nas urnas. Nesse país demoníaco, tais pessoas não foram ostracizadas, nem perseguidas, nem se viram privadas dos seus direitos, muitas são figuras proeminentes apesar disso e outras são-no por causa disso. Não podes negar que houve democracia e um vencedor democrático. O que te chateia é que tu não querias que aquele tivesse ganho - o que me parece menos democrático. A América é um país conservador - tens razão. Mas que mal há nisso, mais uma vez só a tua não-concordância. Conservador só é insulto em Portugal, onde somos todos progressistas. É só pena que tenhamos trinta anos de democracia contra os duzentos dos EUA.
Dizes que John Kerry era um bom candidato, aí até dou o braço a torcer - não sei. Talvez fosse, contudo não era esse príncipe encantado que tu constróis. Falava bem é certo (bem melhor que Bush), apresentava propostas coerentes (que, mais uma vez, estão sujeitas às crenças de cada qual - deves permitir a discordância), só que tinha dificuldade em ser claro nalguns pontos, muito particularmente na questão do Iraque, e aí, meu amigo, não há volta a dar-lhe. Quem o ouviu, ainda hoje, tem dúvidas sobre o que iria acontecer se Kerry tivesse ganho, porque ele próprio nunca o disse. Não acho que o senador tenha feito uma campanha especialmente suja (foi o normal), mas eram bem desnecessários aqueles comentários em relação à sexualidade da filha do vice-presidente. E, outra vez, nunca ficou clara a sua posição quanto ao casamento entre homossexuais, que deve ser um dos argumentos para chamares homófobo a Bush.
Quanto a George W. Bush, sei bem que não é perfeito. Que a economia entrou em recessão e tudo isso, que eu realmente não tenho conhecimentos para contestar ou confirmar. Mas escreveres que o mundo era seguro antes desta presidência e que agora é que está tudo um caos é risível. Desculpa, mas revela a cegueira em que tu e outros vivem (é a minha vez de ser faccioso). O perigo islâmico existe já há muito tempo, muito antes de Bush sonhar poder chegar a presidente. Não é culpa dele, é devido a tanta coisa que seria demasiado complicado estar aqui a enumerar. E, com isto, não quero fugir às culpas que a América e todo o Ocidente têm nisso. Estarmo-nos a lamentar dessas culpas e ficar quietos é que não é aceitável. A nossa civilização, gostemos ou não dela, é a nossa. Detestaríamos que fosse substituída por aquela que o Islão preconiza. E não aceito que se diga que os fundamentalistas são uma minoria e esse tipo de coisas. Enquanto que, em todos aqueles países não houver separação entre Estado e religião, estamos muito mal. São perigosos, muito concretamente a Arábia Saudita e o Paquistão. Vais-me dizer que esses são aliados dos Estados Unidos. São, mas a isso chama-se política. Como é política a decisão de invadir o Iraque. Não tem corrido bem é certo, porém só os tolos é que pensariam o contrário. Estas coisas, como outras, são difíceis, o que não impede que sejam urgentes e necessárias.
Fico-me por aqui. Acho é que devíamos discutir uma questão de cada vez, para melhor podermos aprofundar cada assunto.
João Lameira

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