terça-feira, fevereiro 1

Democracia

Deixando um pouco de lado a nossa campanha eleitoral, aproveito este espaço para reflectir um pouco sobre as eleições no Iraque. O Público diz hoje que a comunidade internacional está agora preocupada com "o próximo passo" para a democratização do Iraque: a Constituição. Logo aqui, parece-me haver um problema. Para falarmos de próximo passo teria de ter havido outro anteriormente. As eleições. Será que podemos chamar a estas eleições um "passo" para a Democracia? Parece-me que não.

Em primeiro lugar porque a maioria dos sunitas nem sequer se registou. O que equivale chamar democráticas a umas eleições no Reino Unido em que a maior parte dos escoceses não estivesse recenceada.

Em segundo lugar, porque me parece que o povo iraquiano não sabe ainda o que é votar. Neste caso, para votar é importante saber em quem se vota (como inúmeros cartazes do PSD nos têm tão bem ensinado). Como se pode falar em democracia num país onde nem se pode (por diversas circunstâncias normalmente alheias a um clima democrático) ver a cara dos candidatos?

Em terceiro lugar, faz-me espécie (adoro esta expressão) que se fale em democracia sem checks and balances. Quero com isto dizer que quem controlou todo o processo eleitoral (desde tentar gatarantir a segurança daqueles que destemidamente iam votar até à contagem oficial dos votos), foi um conjunto de seres (humanos, parece-me) que estão todos do mesmo lado. Ora isto parece-me muito pouco democrático. Provavelmente a minha pessoa tem apenas uma concepção demasiado clássica daquilo que é a Democracia. A mim pareceu-me que as eleições foram apenas um pretexto para apresentar ao Mundo Iyad Allawi, o novo primeiro-ministro iraquiano.

Em quarto lugar e por defeito de formação, não posso deixar de falar da ausência de jornalistas na área. Os que lá deviam estar estão todos em Amã. Não sei, mas parece-me que o Salazar também tentou que os jornalistas seguissem as eleições de 1958 em Madrid...

Enfim, custa-me pensar na Constituição como o "próximo passo", acho que talvez não seja nem o primeiro passo. Afinal será a Constituição tão necessária à democracia? Veja-se o caso inglês... O que me preocupa, sinceramente, é a imaturidade democrática do povo iraquiano. A democracia não se impõe, constroi-se. E demora tempo, muito tempo. O que os iraquianos precisam é de espaço. Para descobrirem por eles próprios os ideais em que acreditam e em que querem basear o seu estado. Para fazerem a sua revolução. E se eles não quiserem a Democracia, será democrático impô-la?


Joana

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