quarta-feira, março 9

Diário de um coimbrão

Antes de me lançar na discussão do "Sr. que parece um sapo velho" (a descrição é da minha consorte italiana), quero deixar aqui as reflexões do meu Dia da(s) Mulher(es) coimbrão.
Parece que o que está na moda é negar as coisas de que vimos rotulados e, como tal, não fujo ao meu esclarecimentozinho: Eu não sou bloquista, nunca fui, nunca hei-de ser...
Por engano ou ingenuidade, mais do que por qualquer outra coisa, decidi acabar um dia que vinha sendo marcado por uma discussão acerca do papel do cavalheirismo (a que quero voltar mais tarde) na nossa sociedade, com um debate pública sobre a pertinência do feminismo na mesma sociedade de que estava a falar antes. Pareceu-me um bom contraponto e uma maneira de reforçar as minhas posições irredutíveis face à plena igualdade entre os sexos.
O que me devia ter chamado a atenção, e aí entra a parte da ingenuidade, era a minúscula menção aos organizadores do debate: um tal grupo de Jovens do Bloco de Esquerda. Pensei que seria um bom debate, vindo de um espectro político que granjeou a reputação de aberto às mudanças e às novas correntes de pensamento... Desenganem-se!
Aquele arrazoado (e detesto tem que usar a expressão com que o Bagão Félix uma vez falou do Francisco Louçã) de justificações para o Dia das Mulheres começou logo nas velhas lutas de sindicalistas sufragistas que culminaram no movimento das que despoletaram uma revolução em 23 de Fevereiro na Rússia czarista, que dá... 8 de Março no nosso calendário gregoriano. Essa parte até podia ser interessante, se não fosse tão unidimensional como a arquitectura de um pensamento comunista, seja ele histórico, sociológico, económico ou qualquer outro...
Seguiu-se um rol de lamúrias sindicalistas (é preciso ter assistido a uma para a imunização ser efectiva), uma descrição na primeira pessoa da situação da muler brasilera emigrada em Portugal e, para concluir, uma resenha da situação actual da mulher jovem em Portugal e no mundo, da boca de uma bloqueira daquelas giras, acabadinha de sair do curso de Direito e que via a lei do aborto como um episódio ridículo e obscurantista do nosso planeamento de saúde sexual e reprodutiva (de morder os lábios de prazer).
Mesmo assim fui ficando, resistindo estoicamente até que o moderador decidiu rematar com um lapidar: "Conclui-se das prestações das nossas camaradas que a mulher é explorada pelo sistema capitalista." (ponto final, mesmo) Foi nessa altura que comecei a correr, a correr o mais rápido que podia e sem olhar para trás, parando apenas à vista do Bar Inglês, à Praça da República, quando até dei lugar para a minha companheira de viagem passar, muito cavalheiriscamente.

Miguel Maia

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