quarta-feira, março 9

À Joana

Aqui vai a minha aguardada (ou não) resposta à Joana:

A Joana chama-me desportista, coisa que tenho a honra de não ser, nunca fui muito atlético e não era agora que ia começar, para mais nas teclas de um computador. Ainda por cima, tenho a infeliz tendência de perder qualquer disputa em que me meta. Vamos a esta.

O doutor Freitas do Amaral (prefiro assim) é comparável ao comentador Luis Delgado. Porquê? Ambos defenderam acerrimamente a eleição de Durão Barroso como se fosse a única hipótese de salvação nacional. Ambos se enganaram. Nunca ouvi Freitas (talvez prefira assim, afinal) retratar-se deste apoio. Luis Delgado, um homem que tem dificuldade em apresentar argumentos razoáveis e vive num mundo de fantasia, ao menos é coerente, não mudou de lado, nem descobriu que afinal o PS é que era bom. Freitas viu a luz, a solução - a maioria absoluta do PS. Há três anos já havia visto a luz, só que era outra. O que fazer a este homem iluminado? A este homem que sabe sempre estar ao lado dos futuros vencedores? A este homem que quer ser amado a tudo custo e que, para tal, anda em bolandas de revelação em revelação, acompanhando o ar dos tempos? Venerá-lo? Não me parece. A única diferença entre Delgado e Freitas é que o último tem boa imagem.

Em termos de política internacional, quando pus as ideias de Freitas a assemelharem-se às do Bloco, não me referia à Europa, como tu bem sabes, mas sim à América e ao assunto Iraque. E isto é fatal para quem será o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros. A América é administrada por George W. Bush, eleito democraticamente, e não pode ser dissociada do texano. Colocar-se contra a administração republicana pode não ser anti-americanismo (é quase sempre, mas adiante), contudo é contra-producente para um MNE português. Freitas falou em conferências onde partilhou os pensamentos de figuras como Francisco Louçã ou Mário Soares (este é melhor nem comentar para não ferir mais susceptiblidades). Como é que fica a posição de Portugal face aos Estados Unidos, pergunto-me. Só não acontecerá nada, porque os americanos não nos ligam pevide, mas não é um passo inteligente de Sócrates nomear Freitas. E, reafirmo, havia melhores opções, pessoas moderadas, que tenham participado ultimamente na diplomacia (o que não é o caso de Freitas), pessoas que até podem não gostar de Bush, mas que não se antagonizaram com ele explicitamente. Portugal, toda a Europa, precisa da América, por muito que isso doa.

Demagogia não é amálgama ideológica, é exactamente o contrário, ideias feitas, recicladas, unas, vagas, sem conteúdo real para consumidor (eleitor) ver. Só da discussão, dentro e fora dos partidos, na sociedade, se pode ir chegando a algumas decisões importantes do que deve ser feito. Não é a partir de ideias pré-fabricadas. Tirando alguns valores intocáveis, tudo o resto é discutível, apresentável, e estamos cá nós para mandar os nossos bitaites sobre isso. Posto isto, não sei o que queres dizer com clarificação, transparência, informação. Estou a favor disso tudo, mas não sei o que é que tem a ver com esta história. O que parece que tu tens vontade é que te apareça um salvador, tipo Salazar ou, numa versão mais soft, Cavaco, com ideias sólidas e coerentes, que venha por ordem nisto. E acabe com a incoerência dos partidos. Já agora acabe com os partidos, que não têm uma voz única e são tão confusos.

É claro que não houve uma viragem à esquerda, eu nunca disse isso, neste país, felizmente, cerca de 60% dos eleitores são do centro e nada mudou.

João Lameira

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