sexta-feira, outubro 21

Pobreza

Este post destina-se a quem falou de pobreza.

Gostava de saber com quantas associações de voluntariado ou de assistência a toxicodependentes ou a sem-abrigo é que participaste?
Com quantas organizações sem fins lucrativos (ou políticos) de combate à pobreza é que colaboras?
De quantas crianças tiradas de bairros socias por pais de classe média que, em vez de ter juízo e gozar do facto dos filhos biológicos já terem saído de casa, os adoptaram é que já ajudaste a tomar conta?

Tenho uma namorada europeia e acredito no sonho europeu. Para além disso, gosto me chamar um filho da cultura pop e sou todo pró-globalização.
Mas é de um calculismo gélido ter a coragem de dizer que a pobreza decresceu.
Em números absolutos, nos últimos 20 anos, decresceu por causa do crescimento brutal da China. Que conclusão brilhante. Está o problema resolvido. Parabéns!
Mas enquanto dás palmadinhas nas tuas próprias costas,
na África sub-sahariana, dados de 2004, perto de 300 milhões de pessoas vivem com menos de 1dollar/dia; o dobro dos que estavam nesta situação há 20 anos. Parabéns! O problema acabou de se agravar.

Acho que a globalização deve ser abraçada como um efeito total, sem descartar sub-produtos como as migrações (não estou a falar das aves), só porque não estavam no plano.
Aproveito para lembrar que, dados mais uma vez de 2004, nem sequer 30% do capital que chega aos países do sul do planeta é por meio de investimento directo estrangeiro e de ajuda humanitária à escala global (onde a União Europeia, mesmo assim, contribui com mais do dobro dos Estados Unidos) e que a maior parte chega pelas divisas que os imigrantes enviam de volta às suas famílias e comunidades, graças aos movimentos migratórios, também eles à escala globaç. Não me esqueço que também a nossa economia foi altamente favorecida pelos retornos das divisas dos nossos emigrantes.
E acho um mundo de bem à globalização.
Não... não sou soarista. Mas concordo com o Soares quando disse que é preciso pelo menos tentar dar-lhe um rosto humano à globalização,
em vez de ficar de braços cruzados,
ou falar de pobreza de cima de um pedestal...

6 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Em 1650 morriam mais pessoas de fome e doenças na EUROPA do que morrem hoje no MUNDO inteiro. E com uma população cerca de 7 vezes inferior. Podes ter a certeza de que antes da globalização era muito pior... E não estou a dizer que a globalização é perfeita, só que melhorou e muito TODO o mundo.

10/21/2005 7:43 da tarde  
Blogger MiM disse...

Dados da ONU de 1999 dão ao planeta inteiro 790 milhões de pessoas em 1750 (um centenário depois de 1650, e quando a Europa contava para 1/5 da dpopulação), enquanto que a FAO, em 2002, dizia que havia 790 milhões de pessoas a sofrer de fome no mundo!!!
Uma coincidência de valores quase macabra, que só não coincide é com a tua visão do mundo.

http://www.un.org/esa/population/publications/sixbillion/sixbilpart1.pdf

http://www.fao.org/english/newsroom/news/2002/9703-en.html

10/21/2005 8:09 da tarde  
Blogger Gabriel Peregrino disse...

Calculo que o destinatário deste post seja eu, porque atrás referi a diminuição do número de (muito) pobres desde 1991 (30 por cento para 21 por cento em todo o mundo, sendo que a única região onde não se verificou diminuição foi precisamente em África, o continente menos globalizado). Mas em relação a isso, pretendo responder no meu blog (www.a-respublica.blogspot.com). Quanto a seres filho da cultura pop, devo dizer que se nota; e quanto às referências à minha pessoa, devo dizer que escolheste o alvo errado. Desde os 12 anos que colaboro com instituições particulares de solidariedade social, no apoio a idosos e na formação e ocupação de tempos livres de adolescentes (de bairros "carenciados"). Se quiseres, terei muito gosto em enviar-te o meu currículo. Ah, e já agora, sempre que posso uso os ecopontos... mais alguma pergunta?

10/24/2005 2:43 da tarde  
Blogger Gabriel Peregrino disse...

p.s.: esqueci-me de referir que, em breve, vou ajudar a minha irmã e o meu cunhado - que por acaso são de classe média -, a tomar conta da criança que vão adoptar (e que já teriam adoptado, não fosse a lentidão da burocracia). Mais alguma questão?

10/24/2005 2:49 da tarde  
Blogger MiM disse...

O facto de o caso de África se ter agravado está longe, como concordarás, de querer dizer que a globalização não chegou lá... bem pelo contrário.

Cumprimento-te pelo teu esforço, se bem que, em mais medidas do que uma, não compreenda o orgulho com o facto de a pobreza ter "diminuído" no mundo.
Por falar nisso, recomendo-te um documentário famoso, que talvez conheças, chamado "A Decent Factory", de Thomas Balmès e que passou este fim-de-semana na docLisboa. Nele se percebe bem que tipo de desenvolvimento humano é que a nossa querida globalização trouxe, por exemplo, à China.

De facto, não tenho como escapar às minhas referências pop medianas. Eu sou de classe média mas, como se isso não fosse suficiente, não sou comunista e não acredito nas classes de acordo com a propriedade dos meio de produção, nem sonho com a ascensão à burguesia.
Pior do que isso, tenho absoluto horror à perspectiva de uma ascensão dessas, mesmo que fizesse sentido.
Deus me livre e guarde!

10/24/2005 9:45 da tarde  
Blogger Gabriel Peregrino disse...

Quanto à África, creio que o problema é o oposto: os países africanos mais pobres são precisamente os que não têm empresas internacionais que os "explorem", ou seja, que não são vítimas da tão malfadada globalização. E não sou eu que o digo, pois basta consultar as estatísticas do insuspeito PNUD. Além disso, muita gente esquece que a situação caótica em que muitos países africanos caíram deve-se em grande parte às suicidas experiências de "engenharia social" levadas a cabo nas últimas décadas por governos africanos ditatoriais (marxistas, na sua maioria), que contaram para o efeito com a simpatia da intelectualidade ocidental (da mesma forma que Chomsky apoiou Pol Pot, muitos intelectuais europeus apoiaram Mengitsu, Agostinho Neto, Mugabe e outros ditadores que arruinaram os respectivos países). Quanto à tua recusa à ascenção à burguesia, nada tenho com isso, embora devo dizer que a partilho...:)

10/25/2005 2:30 da tarde  

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