terça-feira, fevereiro 13

As razões do meu Nim

Quando era mais jovem, os congressos do PSD eram um acontecimento mediático comparável à final da Taça de Portugal. Dessa altura lembro-me ter colhido a lição de que "o mais importante destes congressos não é o que se passa no Domingo, mas é manter a mesma atitude na segunda-feira".

Agora que estamos na Segunda-feira da Segunda-feira do referendo ao aborto, a segundos de ver o assunto passar para lá da barreira do esquecimento... como se não houvessem mais abortos com que nos preocuparmos (como aconteceu nos últimos 8 anos), decidi escrever sobre o que penso ser o assunto mais consensual que se discutiu na sociedade portuguesa nos últimos tempos.

Alguém mais reparou que ambos os campos: são contra o aborto como método generalizado de contracepção, contra o julgamento das mulheres que recorrer ao aborto, não aceitam o aborto clandestino, são a favor de uma saúde sexual e reprodutiva que continua a anos-luz da que temos e que a única coisa que os separa é a questão (filosófica, mais do que da moral prática) de saber se o aborto é um assassínio ou não.

Era a única questão que os dividia e, ouvindo-os, parecia que um rio de questões dividia os campos!

Eu não acredito mais que o aborto seja uma assassínio e por isso votaria Sim (estou no estrangeiro e não pude votar).

No entanto, sou a favor da penalização do aborto enquanto método contraceptivo usado indiscriminadamente (ainda para mais à discrição da mulher é não dos dois elementos de igual direito que conceberam o feto). Acredito que um casal que aborta 17 vezes, como num caso que conheci, merece ser penalizada, merece ir para a prisão. Mais, acho que um casal que decide abortar porque não lhe agrada o sexo da criança (e às 10 semanas, às vezes, já se pode conhecer o sexo) merece ser preso. Estou longíssimo de ter uma concepção assim tão leviana da sexualidade.

Portanto, concordo com um controlo que, de certa forma soa a penalização, do aborto. Acho que um casal que decide abortar deve poder fazê-lo em condições de saúde e privacidade, mas deve ser encaminhado para consultas obrigatórias e, necessariamente não públicas, de planeamento familiar e deve ter o direito de aceder a métodos contraceptivos que não sejam demasiado caros (comparticipados, se necessário) e o dever de os usar.

Acho que deve haver uma tolerância limitada para "descuidos" e "percalços" para que não se generalize o recurso ao aborto. Bem sei que nunca será assim numa sociedade minimamente moral. Eis, aliás, a razão pela qual estou em crer que o Sim ao aborto não tem uma concepção completamente amoral do acto de conceber um ser humano. Mas os poucos casos intoleráveis não podem passar e é possível que não se deixem passar.

Pois aqui estou, um abstencionista forçado, que votaria Sim, concordando com a penalização do aborto

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