segunda-feira, dezembro 13

O Contraditório

Gostava de desconstruir algumas das coisas que a aliança Maia - Mil-homens resolveu postar por aqui. Este governo não tinha condições para continuar, é certo, mais por uma incompetência no lidar com o país (comunicação social, quero eu dizer) do que pelas próprias políticas. O que se acha dessas políticas não é relevante para uma dissolução. O que levou à queda de Santana Lopes foi a imagem que dele tinham os portugueses. É óbvio que não há ninguém mais responsável por ela que o primeiro-ministro, e que ela estava, nas palavras do próprio, "a inquinar isto tudo". Mas isso deve-se muito à essência do português: que importância tem que o homem gostasse de beber, de sair, de ir a discotecas? Isso não é de longe o que interessa para se ser bom ou mau político. Santana Lopes não foi um bom primeiro-ministro, porque não tem jeito para isso, falta-lhe aquela pose que todos os bons líderes têm. Não é circunspecto, fala de mais, gosta de polémicas, é demasiado temperamental. Será sempre um grande orador, os seus discursos cheios de uma retórica quase inatacável. Os seus opositores respondem-lhe com ataques pessoais, chamam-lhe burro, fútil. O homem não serve para chefiar um governo, mas não é preciso insultá-lo, acho eu.
Nos últimos quatro meses, não vi, na comunicação social, no circuito fechado dos comentadores políticos, discutir-se mais que fait-divers. Este governo tinha bons ministros, tentou fazer algumas coisas. Não há palavras sobre isso, impera o deita-abaixo puro e simples. É tudo mau, nada se salva. O miserabilismo normal em Portugal. É essa uma das razões para que eu duvide muito do sucesso de Sócrates. Vai-lhe acontecer tudo isto, como já aconteceu a tantos antes, e depois como é que ficamos? Qual será a alternativa então? Voltamos ao mesmo. Discurso dos portugueses: os políticos não prestam, só olham por si. Sempre à espera de um Messias, que felizmente não virá. Salazar, volta que estás perdoado - é disto que nos aproximamos. A desresponsabilização tradicional na sociedade portuguesa é que deve ser combatida. O problema não são os Santanas, nem as moedas boas ou más. O problema é que ninguém quer saber. Derrotismo. Dizer mal. Não temos nada a ver com isto. Mas temos, o Estado somos nós.
Espero que o PS tenha coragem para enfrentar os adversários dentro do partido, no corporativismo reinante em Portugal. Fazer a política que consideram a melhor, não olhar ao que os outros pensam. A Assembleia é representativa, dura quatro anos, ou assim deveria. Não podemos ser governados por sondagens de opinião. Não podemos referendar todos actos da Assembleia, ela vale pelos votantes, por todos os cidadãos. Os analistas políticos derrubam governos, como se viu, mas que alternativas propõem? Nenhumas, a sua arte está no desfazer. Fazer-se alguma coisa acarreta erros, críticas, durezas várias. É preciso resolução. Tenho esperança que Sócrates possa ser, como já ouvi, o Tony Blair português. Não um Guterres de segunda, um Guterres de primeira.
Quanto a nós, cidadãos, que podemos exercer a nossa influência de tantas formas, façamo-lo. Por um Portugal melhor.

João Lameira

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