quinta-feira, fevereiro 21

De Espanha...

Só para que conste, acho absolutamente lamentável que em Espanha se coloquem os resultados de uma eleição à frente da estabilidade de um continente. A posição espanhola de oposição à declaração de independência do Kosovo coloca em causa a capacidade de resposta da União Europeia, que até tem tropas no terreno. E tudo porque o governo Zapatero não se pode dar ao luxo de reconhecer a independência de uma província em relação a um país soberano com medo que se abra um precedente que os bascos e os catalães possam usar.

O Chipre, a mãos com uma divisão dentro do seu próprio território e a Grécia, aliada tradicional de Nicósia, também não reconheceram a independência kosovar. Isto apesar de todas as ressalvas e chamadas de atenção dos negociadores europeus para o facto qualquer resolução da situação no Kosovo não abrir um precedente jurídico.

Já se sabia, nos bastidores diplomáticos, que eram estes os países que estavam a dificultar a vida ao Kosovo no ceio da própria União mas, por momentos, parecia-me que os esforços da Eslovénia, mesmo antes de assumir a presidência da União iriam dar frutos e a Europa ia conseguir ter uma só voz na resolução de um problema que é europeu. Seria este suceder de sucessos, depois da assinatura do Tratado de Lisboa (e o garantir da sua ratificação), que iriam dar um novo momentum ao projecto de construção europeia e começar a escrever as primeiras linhas do último capítulo de um livro que se teima em não fechar: o da Guerra Fria e das relações com o "aliado" russo.

Mas, em vez disso, estes três países decidiram demitir-se das suas responsabilidades. Em vez disso, os governantes da Espanha, um dos 5 maiores países da União, decidiram que umas décimas nas sondagens eram preferíveis ao estabelecer de condições à acção "unida" da União no último conflito nos Balcãs. Condições que estavam de resto reunidas, com forças de intervenção rápida no terreno, sob a égide da Eslovénia, o primeiro dos países da Ex-Jugoslávia a aderir à União e a assumir a sua presidência rotativa.

domingo, fevereiro 10

Sneaking Suspition

Agora, sempre que oiço o Barrack Obama falar de uma redução das emissões de gases de efito de estufa em 80% até 2050, sempre que o oiço falar do fim dos benefícios fiscais aos 5% mais ricos na América, sempre que o oiço falar da saída de uma guerra que nunca devia ter sido autorizada, fico quase nervoso, meio triste, à espera de ver quando é que alguém vai dar um tiro neste também.

quinta-feira, fevereiro 7

Eppure si muove

A desistência do Mitt Romney da corrida presidencial americana é a melhor notícia que o mundo recebeu desde há muito tempo. Estamos, com a confirmação da nomeação do John McCain, finalmente livres do espectro da irrazoabilidade e do fundamentalismo religioso na Casa Branca. Um espectro que tomou forma de homem, de carne e osso, nos últimos 7 anos.
Salvaguardada que está a eleição de um presidente moderado nas próximas eleições, podemos esperar uma verdadeira mudança política na América e, como tal, no mundo. Passaremos a ter um presidente político que se deixará maneatar pelos interesses económicos e industrias em vez de ter um industrial que, às vezes, se vê coibido a obedecer a regras de uma política que é pouco menos que um jogo. Era esse o ponto em que estávamos em 2000 e será esse o ponto que retomaremos. É essa a grande notícia: a evolução política nos países ocidentais operada com o fim da Guerra Fria e que foi interrompida pela incompetência e a má-fé do ainda presidente, poderá ser reiniciada. Voltaremos a falar de desilusão, de um(a) presidente que não fez tanto quanto se pedia ou esperava, o que é incomparavelmente melhor que reduzir a discussão com a meia dúzia mais resistente sobre o absurdo da guerra do Iraque, do barril de petróleo a $100, da negação das alterações climáticas ou da ideia de evolucionismo. A Terra, como nesse audacioso período entre o meio do século XVII e o fim do século XX, voltará a girar à volta do Sol.