quinta-feira, dezembro 21

Voltando ao mesmo

Depois da histeria gerada por Francisco Saarsfield Cabral, deixem só que partilhe da minha experiência. Já soube de abortos feitos em nome de um "Erasmus" que ficaria para trás. E, apesar de achar que os paizinhos desse zigoto deviam ter sido apedrejados (os dois) em praça pública, essa é apenas a minha opinião e forma de ver as coisas - também acho que a Fátima Campos Ferreira devia ser apedrejada em praça pública e nem por isso acho que deva haver uma lei que a proiba de se aproximar do estúdio do Prós e Contras.

Sobre a Educação

TLEBS para cá, TLEBS para lá, o que tem de levar uma volta é o sistema de ensino todo. É uma falácia socialista esta de que a educação é para todos, quando depois a educação que é dada a todos é do pior.

O mal, parece-me, não está nas terminologias. Nem vou dar uma de académica. A mim chamar a algumas palavras "substantivos" nunca me fez grande espécie. Não tanto pelo vocábulo em si, mas porque tive a sorte (helás!) de ter bons professores.

Discutir o ensino na praça pública teve sempre o seu quê de tabu. As colocações dos professores sim. Os ordenados dos professores claro que sim. Mas as mais-valias para os alunos não parecem ser dignas de greves e manifestações.

Antigamente, no tempo dos meus avós, saía-se da quarta classe a saber escrever, a fazer contas de cabeça e com a história de Portugal na ponta da língua. Quem alguma vez (eu confesso que várias vezes) se deu ao trabalho de ler "As Lições do Tonecas", tem uma noção clara da quantidade de coisas que se deixou de aprender na escola primária (coisas como o que é um "cefalópode" ou um "fitozoário").

Julgo que aqui batemos num dos males da democracia e do paternalismo estatal que tem caracterizado o nosso pós-25 de Abril. A educação para todos não é o mesmo que oferecer diplomas. Educação para todos, não pode ser sinónimo de baixar a fasquia, para que todos tenham, na pior das hipóteses, o 9º ano.

Fazer do 9º ano o ensino obrigatório não pode ser apenas uma forma de afastar as crianças do trabalho, mas sim, uma forma de garantir que todos os portugueses tenham um mínimo aceitável de conhecimentos.

Pessoalmente não sei como se deveria ou não reformar o nosso sistema de ensino. Não tenho essa solução. Posso apenas dar-vos o exemplo da minha escola primária. Privada, claro, e que segue moldes ligeiramente diferentes.

Para que me entendam, deixo-vos com uma citação da fundadora do "meu" colégio:

Na escola, nem sempre está associado o prazer à actividade pro­posta. Quando digo prazer não excluo o esforço que lhe está ligado. A diferença está em despendermos esforço numa acção de que se gosta ou, pelo contrário, se detesta. Não se trata de só fazer aquilo de que se goste - mas do que tem significado para o sujeito e que constituirá caminho para a elaboração de novas ideias e de novos conhecimentos. Não é com reorganizações curriculares nem com reforços disciplinares, nem com aulas de cinquenta ou noventa minutos, que construímos uma escola que através da sua paisagem urbanística e do fervilhar de um trabalho assen­te na expressão, na comunicação, na arte e na ciência, faculte a todos os humanos que nela cresçam «o prazer de escrita»
Lucinda Atalaia, Directora do Jardim Infantil Pestalozzi, Lisboa

PS1 - A falta de coerência que eventualmente se possa encontrar neste texto deve-se aos milhares de micro-terroristas que tomaram o meu corpo de assalto. Os capacetes brancos não estão a dar, obviamente, a devida conta do recado. O meu sistema imunológico tem muito de ONU por estes dias...

terça-feira, dezembro 5

Digam tudo, menos ciência

De facto, Joana, só pela filosofia, a ética ou a fé é que se pode discutir o aborto. A questão das 10, 100 ou 1000 semanas é absolutamente irrelevante.

A ciência é um bocado como a guerra: Os seus seguidores mais ferverosos são os que nunca participaram e não fazem ideia do que é que estão a dizer. São os tais ratos, que num campo de batalha seriam os primeiros a recuar e que num laboratório subterrâneo seriam os primeiros a verter lágrimas amargas pela morte provada de Deus. E seriam os primeiros a fugir, em ambos os casos.

Mas, para que conste: quando é que a vida é ou deixa de ser "humana" é uma questão completamente indeterminável cientificamente. Passa completamente ao lado do objecto da ciência que nunca poderá deixar de ser o campo das coisas naturais e previsíveis.

A não ser que se determine o número de ligações nervosas no cérebro de uma criança de 4 meses (altura em que se começa a distinguir dos primatas mais inteligentes), cientificamente, nós somos vida animal e acabou.
Nada existe em nós que a ciência possa diferenciar do resto dos animais. Nada para além disso: um número de sinopses.

A não ser que se determine com base em relatórios e pareceres de especialistas que a partir desse momento em que somos diferentes de um chimpanzé bebé, somos sagrados, a historieta de quem acredita que a ciência é a resposta para tudo é tão cega como a de uma beata de igreja.

domingo, dezembro 3

Ainda o aborto

Uma das coisas que me chateia quando oiço os defensores do não é o facto de se agarrarem à ideia de o zigoto constituir uma vida humana em plano de igualdade com a de um bebé depois de nado. Até hoje, e tenho a sorte de conviver com diversas pessoas que trabalham na área, não se chegou a uma definição absoluta do momento em que a um agregado biológico se pode chamar vida humana.

Biologicamente, aquela que é a corrente que reune maior aprovação é a que defende que se fala de vida humana a partir do momento em que se forma o sistema nervoso central, o que acontece por volta da 10ª semana de gestação.

Mesmo na definição "católica", em que vida humana é "una e indivísivel", salvaguardar-se-ia uns dias em que - por essa lógica - o aborto poderia ser permitido (pois que o ovo pode ainda dividir-se e originar um gémeo).

Ora, partindo do pressuposto de que não há provas de que estamos perante uma "vida humana", podemos partir para o terreno da especulação filosófica. Na minha cabeça, já aqui o disse antes, no momento em que me souber grávida estarei de imadiato à espera de um filho, com todo o envolvimento emocional que tal acarreta. Faz-me impressão que haja quem não pense assim. Mas não me permito ter sobre essas pessoas outro julgamento que não o moral. E acredito também que ninguém deva ser julgado ou condenado por ofender a minha moral.

Volto a dizer, estou-me nas tintas para os pobrezinhos que não têm posses para fazer umm aborto em Madrid. Estou-me nas tintas para aquelas (pobrezinhas também) que fazem abortos em Madrid. Acho que o Estado deveria perder tempo e dinheiro a cuidar dos orfãos e abandonados e a dar-lhes uma vida decente e sobretudo dinamizando os regimes de adopção. Acho que o Estado deveria perder tempo e dinheiro com uma educação sexual decente, a distribuir gratuitamente métodos contracepcionais.

E acho sobretudo que aqueles que defendem a vida humana, a defendam porque acreditam que os seres humanos não são uns idiotas selvagens (e digo-o sem qualquer espécie de análise rousseauniana). E como tal, não se tornam abortadores em série só porque o aborto é legal, nem tão pouco passam a prevaricadores apenas porque aprendem a usar pílulas e preservativos.