quinta-feira, agosto 31

Posta aos leitores

Aqui vai uma daquelas do "depois não se venha queixar" mas...

... se o caro leitor sabe mais dos preceitos legais desportivos que regem o "caso Mateus" do que dos crime de genocídio de que o Saddam Hussein está acusado pela morte de nunca menos de 50 000 curdos (provavelmente o dobro disso).
... se o caro leitor está mais preocupado com as consequências da "guerra" entre o Valentim Loureiro e o Cunha Leal do que com as consequências da guerra no Líbano depois de Israel ter lá largado bombas de sub-munição - aka cluster bombs - que se transformam em minas anti-pessoal quando não explodem.
... se é daqueles que encolhe os ombros porque eles na ONU e eles na União Europeia não vão fazer nada para resolvir isto.

Então deixe-me que lhe diga, caro leitor, que a ONU é a organização internacional de todos os estados e de todos os seus cidadãos livres e que, portanto, não é nada menos que o caro leitor;
que a UE confere a cidadania da Europa a todos, incluindo, caso seja cidadão de um estado membro, o caro leitor e que, portanto, não é nada menos que o caro leitor.

Por isso, não tenho dúvidas em dizer-lhe, caríssimo leitor, que a culpa de tudo quanto se está a passar é sua.
É sua, do seu encolher de ombros, da sua resignação ao facto de na guerra "acontecerem coisas destas", enquanto vira a página do jornal desportivo.

E depois não se venha queixar.

quarta-feira, agosto 23

Air Force One

Porque raio é que quando há um avião que está ou esteve para ser atacado por terroristas, lhe metem uma meia dúzia daqueles caças tipo top gun atrás? O que fazem eles ali? Qual é a função deles?

Dirão os mais cínicos, em que me gosto sempre de incluir, que é para o caso de se ter que mandar o avião abaixo. Ou será só porque são fãns daquele filme com Harrison Ford a fazer de Presidente?

Apesar do piloto ter reportado um comportamento suspeito por parte de 2 passageiros, o avião destinava-se a Mumbay, na Índia, pelo que devia estar cheio daqueles cidadãos "acastanhados" (as expressões "brown people" ou "desert niggers" usadas pelo meu comediante favorito caberiam aqui melhor do que qualquer coisa que eu possa inventar em português).

As autoridades holandesas tiveram um dia em grande e poderam prender 12 (sim, uma dúzia inteira numa questão de poucos minutos de trabalho) destes cidadãos para passar nas notícias daqui a um bocado.
Nada mau para um dia de trabalho que até se adivinhava bastante aborrecido.

quinta-feira, agosto 17

Expliquem-me como se eu tivesse 4 anos

O ataque de Israel ao Líbano é como se, de repente, a ETA se refugiasse em Almada, o nosso exército não fizesse nada, por incapacidade, e, de repente, os Espanhóis bombardeassem todos os arredores de Lisboa just in case - até porque, já se sabe, quando um terrorista chega ao Seixal, há logo outro que se instala na Portela.

O Afeganistão americano II

Tive a sorte (nada mais do que sorte idiota) de acompanhar nada menos que o director para o Afeganistão da HRW. Estamos a falar de Sam ZiaZafiri, alquém que, quando vai à NATO para falar da substituição do contingente americano, dá informações operacionais à NATO, raramente as recebe... e eles tomam atentamente nota de tudo.

A principal conclusão que ele tinha para apresentar era exactamente esta:
A vitória guerra no Afeganistão deve ser comunicada aos afegãos pelo número de escolas que se reabrem e pelo número de crianças que as utilizam sem receberem ameaças nocturnas, deixadas no caminho para a escola pelos senhores da guerra locais.

É este o léxico dos afegãos. E - surpreendam-se - por muito que eu perguntasse ao Sam se o afegãos eram muito diferentes de nós, ele respondia sempre com frases como: "eles querem que os filhos e as filhas [filhAS!!!] vão à escola, para terem um futuro melhor... para poderem ser alguma coisa na vida... serem o que eles próprios não podiam ter sido".
Frases que qualquer um dos nossos pais podia ter dito.

O Afeganistão americano I

Pode dizer-se que o Ocidente até ficou um bocado aliviado com o exército soviético teve que retirar do Afeganistão, depois de uma guerra assaz frustrada contra os Mujahideen. É um sentimento um bocado mesquinho, se bem que compreensível, semelhante ao de um adepto português que, apesar de perder o Campeonato do Mundo, fica contente porque a França também não ganhou.

O que o Ocidente estava longe de esperar era que o Afeganistão, o famoso Vietnam soviético, se fosse transformar num Afeganistão americano. Não que os Americanos não tenham tido o apoio esmagador da comunidade internacional antes e durante a intervenção. Afinal, não estamos a falar do Iraque...

Apesar de terem visto a operação como uma manobra beligerante absolutamente destinada a eliminar todos os taliban da face do planeta, a comunidade internacional não reclamou que fossem reabertas escolas e tribunais. Sempre deu toda a cobertura.

Mas o Afeganistão é um novo Vietnam. Ainda hoje, os americanos medem o sucesso da sua presença no Afeganistão pelo número de extremistas que matam. Já nem lhes chamam vietcongs, mujahideens ou talibans. Como perceberam que não é matematicamente possível matar mais talibans do que aqueles que existem, chamam-lhes extremistas e continuam a disparar à vontade.

E se toneladas de napalm podiam até "cheirar a vitória", a verdade é que nunca o foram. E nunca o serão.

Contagem decrescente

O primeiro dos 24 "fascistas islâmicos" presos à pressa logo a seguir aos atentados falhados em Londres já foi libertado sem acusação formal... ou um pedido de desculpa formal. É feito com um grande nível de intimidade... nada de formalidades.

Apesar de tudo teve sorte porque, apesar de querer colocar chips de Radio Frequency Identification (RFId) na identificação das pessoas (assunto a que não dediquei tempo suficiente neste blog), o governo britânico ainda não tem a mania de as encarcerar sem acusação formal.

De facto, antes prendê-los para se dar a imagem de que se apanharam uns quantos árabes, para os libertar alguns dias depois,
do que mandá-lo para Guantanamo para ser libertado alguns anos depois.

E, pelos vistos, já só faltam 23.

sexta-feira, agosto 11

Preâmbulo

Foi desmantelada uma operação terrorista de larga escala contra os Estados Unidos da América. Ainda bem. É sinal que de facto existe mais segurança nos aeroportos e que as polícias estão melhor apetrechadas para combater estas organizações.

Como já sei como é que as pessoas são, vou deixar aqui esta posta, assim, isoladamente. Mais tarde, quando disser outras coisas que não contradizem em nada esta, vão acusar-me de pensar exactamente o contrário do que está aqui escrito e que não, que não estou nada contente com o facto de um excelente trabalho das autoridades britânicas ter impedido um ataque sobre os Estados Unidos.

Como vou dizer coisas que, não tendo nada a ver com este ataque, vão contra as acções dos governos britânico e norte-americano, e por razões que irão pouco além da estupidez própria de quem fala de uma guerra como de um jogo de futebol, também me vão perguntar se eu preferia que o ataque tivesse acontecido.

Pois bem, nessa altura limitar-me-ei a uma referência a esta posta e ao facto de dela decorrer que não preferia que o ataque tivesse acontecido...

quinta-feira, agosto 10

Fontes seguras

Diz que Israel lançou mais um dos seus avisos bombásticos (desculpa Joana, mas não consegui encontrar um adjectivo mais plástico) aos habitantes do Sul do Líbano.

Diz que, a partir de agora, todos os veículos que estiverem a circular nas estradas do Sul do Líbano vão ser considerados alvos militares.

Os carros dos libaneses, que também não devem ser assim tantos, têm tudo para ser um daqueles objectos civis que cuja destruição (e possível morte de civis inocentes - ainda para mais "bem avisados") não excede a concreta e directa vantagem militar que é antecipada. Mais uma operação que promete ser limpinha...

Para além de que vai ser um gosto para os rapazes da artilharia israelita... vão poder brincar aos jogos de computador,
mas com carros a sério.

quarta-feira, agosto 9

Sem Palavras

A barbaridade é, possivelmente, a única coisa capaz de me calar. Nem bomba, nem inteligente. Pobre.

terça-feira, agosto 8

"crime de guerra"

Na afanada prossecução dos meios deveres laborais, dei por mim a escrever as seguintes palavras num qualquer documento word:

Segundo a Lei Humanitária Universal – também conhecida como leis da Guerra –, as partes de um conflito armado não podem fazer da população civil objecto dos seus ataques ou abrir fogo indiscriminadamente sobre áreas civis. Também não podem lançar ataques que sabem ir provocar perdas acidentais de vida civil, ferimentos a civis ou dano a objectos civis que excedem a concreta e directa vantagem militar que é antecipada. Esses ataques constituem crimes de guerra.

Não... não se trata de propaganda anti-semita. Este trecho foi tirado de um comunicado de imprensa a condenar os ataques do Hezbollah a civis israelitas, condenação que pessoalmente subscrevo na totalidade.

Mas se quiserem perceber um bocado mais do que se passa no sul do Líbano, podem ver aqui a entrevista de Peter Bouckaert, da Human Rights Watch (já sei que não devia misturar trabalho com prazer), concedida ao Le Monde.

Um clássico revisitado

No meio das barbaridades que vou ouvindo e lendo um pouco por toda a parte, Luís Delgado consegue, mais uma vez, destacar-se pela inusitada estupidez com que constrói os seus textos. Não. Talvez não seja estupidez. Porque a estupidez deveria ser inócua e haver um "Luís Delgado" com espaço no DN é uma coisa muito pouco inócua - um pouco como aquela gaja loira e escultural americana que é xenófoba, racista e acha que os EUA deviam era invadir de uma vez todos os países muçulmanos e torná-los católicos e vai a tudo quanto é programa de TV. Estas coisas têm graça, de tão disparatadas. Mas muitas vezes é no ridículo que nascem os maiores horrores - "fechar judeus em quartos fechados e ligar o gás? ah ah ah, nunca ele vai ter coragem para isso" e depois foi o que foi.

Enfim, o Luís. Tem graça, claro que tem graça. Alguém que olha para o que se passa no Líbano e discorre sobre os protagonistas dando a Israel um papel secundário ("Milícias extremistas, grupos descontrolados, poderosamente armados, que se vêem reduzidos a cinzas, temporariamente, por Israel, com o uso desmedido da sua máquina militar"), dá vontade de rir. O mal é que a gargalhada vai morrendo, quando percebo que há mais quem pense assim - a culpa é do Líbano, matem-se inocentes, já!

O preocupante aqui é a libertinagem do exército israelita. A forma crua como se matam inocentes. A forma como, impunemente, se cometem crimes à luz da lei internacional e pecados abomináveis à luz de qualquer religião, e, alegremente gentinha como o Luís se entretem a empurrar esses actos para a sombra de um papel secundário.

Aquilo que nenhum Luís Delgado, José Manuel Fernandes e afins ainda me conseguiu explicar afinal é como se mede a importância de uma vida humana. Como é que uma nação que gasta milhões para eternizar o nome dos que morreram nos atentados às Torres Gémeas defende o ataque cerrado a quem, simplesmente, dorme na sua casa ali para os lados de Beirute. É que se é apenas um totoloto relacionado com o sítio em que nascemos ou o Deus que adoramos, eu voto que se cemece por estes "estúpidos", antes que a estupidez deixe de ser inócua.

segunda-feira, agosto 7

Os maus da fita

Nesta questão do Médio Oriente parece-me sempre que os chamados "observadores" estão sempre mais preocupados em encontrar um culpado para o problema do que em procurar uma solução. E mais. Chateia-me que as pessoas, num assunto tão complexo quanto este, se recusem a pensar. Demasiado trabalho. Quem é de direita acha muito bem, sim senhora, que se mate uma enormidade de inocentes, porque o Hezbollah é uma ameaça e "eles andam aí" espalhados pelo Líbano escondidos em bairros residenciais e escolas. Quem é de esquerda, toma a atitude Israelita como mais um sinal de arrogância sionista, que eles só param quando aquilo for tudo deles.

Nos últimos dias, tenho dado por mim a pensar no conceito de Pax Americana de que o Kennedy falava e que, JFK dixit, era de evitar. O modelo de paz que temos hoje, imposto por essa grande democracia que dá pelo nome de Estados Unidos da América, defende que caso um movimento decida chatear-nos, nós (entidade abstrata que normalmente engloba fabricantes de armas e/ou comerciantes de petróleo) podemos atacar sem limites o país - e TODOS os seus habitantes - onde esse movimento se abriga - ou onde o nós acha (ou lhe dá jeito achar) que eles se abrigam.

E já sei. A malta vem com aquele argumento, ah e tal se fosses tu que tivesses o teu marido nas Torres Gémeas, no Metro de Londres ou Madrid, se o teu Pai tivesse sido morto em Israel. Claro que sim, claro que também andaria sedenta de vingança e isso. Mas, como sofro da Graça de ainda não ter perdido ninguém que me fosse próximo na insanidade das acções terroristas, preocupo-me com o facto de um dia poder estar muito bem na minha casa, sentada no meu sofá (ler sófá) e sou bombardeada, apenas porque há rumores que o Hezbollah é afinal uma organização chefiada pelos velhotes que à tarde jogam sueca no Jardim da Parada.

É este o tipo de coisa capaz de me tirar o sono.

Esses caras do Hezbollah são uns cafagestes

Por que raio é que quem quer defender Israel ataca sempre o Hezbollah. Como se isso desculpasse alguma coisa...

Se eu soubesse que era assim taõ fácil, já tinha pegado na caçadeira de canos serrados que tenho lá em casa (à espera do momento certo) e já me tinha metido na torre da igreja a matar o pessoal que passava. Sempre podia chegar ao tribunal e dizer que o mundo está cheio de terroristas e de assassinos, alguns dos quais piores do que eu, alguns dos quais até já me tinham morto se tivessem tido a oportunidade.

domingo, agosto 6

Il nonno

Às vezes dou comigo a pensar como é que este homem está quase a fazer 70 anos. Soares, havias de ter posto os olhos nele.

Silvio Berlusconi, antigo Primeiro-ministro italiano.
Fotografia tirada aquando da recepção do Primeiro-ministro britânico Tony Blair
na sua casa de férias na ilha de Sardenha.
Agosto de 2003 (a poucas semanas de completar 67 anos)