terça-feira, outubro 31

Os Abortos

Ontem cinco abortos estiveram sentados (a Fátima Campos Ferreira estava de pé) na Casa do Artista a discutir o Aborto. Infelizmente, há 50 e tal anos, quatro mães escolheram não abortar. Infelizmente, nos dias de hoje, a produção de um programa achou que quatro daquelas pessoas tinham cabeça para opinar em horário nobre sobre um problema como o Aborto. Infelizmente, nos dias de hoje, as associações pró e contra o aborto têm cabecilhas que fazem da situação um circo. Esta não é, nem deve ser, uma questão de defesa dos "pobrezinhos". Parece-me que, até ver, esta é uma questão de consciência, de convicções. De um lado, os que defendem que o embrião é uma vida humana e lhe atribuem todos os direitos atribuidos a qualquer um de nós. De outro os que não consideram o embrião como ser humano absoluto. A ciência, por mais que médicos de ambas as partes o gritem, não chegaram a nenhum consenso absoluto. Mesmo o conceito defendido pela Igreja - que inclui o conceito de ser "uno e indivisível" - não é de absoluta aplicação.

Trata-se então de uma questão de consciência de fé. E, acrescento eu, de responsabilização. Volto a dizer que não compreendo, não aceito e dificilmente tolero que alguém, nas minhas condições opte por um aborto.

Mas, poderá o Estado julgar essa opção? Eu acho que não.

Agora parem com as fantochadas e sensacionalismos. Não me apareçam com fotos manipuladas e exemplos de meninos "das barracas" com falta de amor. E nem vou falar no brilhantismo da Zita a falar da escolha do sexo dos bebés...

sexta-feira, outubro 27

Eu, Joana, a Maior Portuguesa de todos os tempos

Uma coisa que me chateia na discussão sobre "O Maior Português de Todos os Tempos" é o facto de a RTP não ter sugerido o meu nome. Uma falha. Um sinal de ausência democrática. Até porque toda a gente sabe que, para a RTP e para um reduzido número de iluminados, sugerir é sinónimo de candidatura. Por isso houve uma pequena trupe de revoltados com a ausência de nomeação para Salazar. Porque a eles não lhes bastava votar em Salazar. Eles queriam a foto. A biografia. Queriam Salazar ao lado do Eusébio.

Sinceramente, e de salazarista não tenho nada, choca-me vê-los lado a lado.

A bem dizer, chateava-me eu estar ao lado do Eusébio. Ou da Amália, já agora.

Por isso esqueçam. Ou bem que pegam na lista dos telefones ou também não quero ser uma sugestão da RTP.

Bem... Se pegarem na lista dos telefones, eu também fico de fora... O melhor é limitarem-se a votar em mim...

quinta-feira, outubro 26

Two Roads

Miguel,

O nosso estado de graça e acordo acaba na parte em que tu usas o argumento de que "que o sexo é a expressão mais sublime do amor entre duas pessoas". Nem vou aqui escrever o que penso sobre tu teres escrito isso - já te disse.

Mas chateia-me que venhas buscar esse romantismo moral para a discussão sobre o aborto. Podia a humanidade estar entregue à total devassidão, ao culto do sexo e do prazer e eu não seria mais permissiva em relação ao aborto. Façam o que quiserem, como quiserem, quando quiserem - mas assumam as consequências.

Volto ao mesmo, não me parece justo que aquilo que eu tenha como moralmente válido passe a lei. Ou que tenha de impor a minha moral aos outros. Ou até que isto seja meramente uma questão moral.

Sim, estamos do mesmo lado da barricada, do lado do sim. Mas, mesmo do mesmo lado, continuamos à batatada - comme il faut.

Aborto

Prometido é devido.

Começa a ser confrangedora a quantidade de assuntos em que eu e a Joana convergimos, pelo que urge que os meus outros colegas de blog contribuam com as suas pinceladas, normalmente de uma pinta bushista e negra. no pun intended.

Considero, e dessa posição não me demovo, que o sexo é a expressão mais sublime do amor entre duas pessoas. Em coerência, não posso deixar de achar que algo como "a expressão mais sublime do amor entre duas pessoas" seja uma coisa com implicações e consequências sociais. É claro que as tem.

Há 8 anos, ainda o meu cartão de eleitor estava por usar, fui a uma urnda de voto e disse não à despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Nenhuma das razões e das convicções que me levaram a uma estreia tão auspiciosa do meu cartão de eleitor se alterou nestes 8 anos.

Ainda acho que uma sociedade que desiste de promover o amor (e o sexo) como uma forma elevada de sentir a humanidade é uma sociedade que desiste de se querer elevar para além da gritaria.

Diziam-me na altura que torná-los ilegais não ia fazer com que desaparecessem.
Respondia, na minha arrogância pós-juvenil, que tornar o furto ilegal nunca significou o fim dos furtos e que não era por isso que se devia ir a correr despenalizar o furto. Quando uma coisa é errada, é errada e acabou.

Diziam-me que era uma opção da mulher.
Isso sempre me pareceu, mais do que feminista, um comentário machista, como se os homens não tivessem nada a ver com as gravidezes indesejadas e fosse tudo culpa das mulheres. É um problema e uma opção, caso exista, de duas pessoas: um homem e uma mulher.

Diziam-me que a esquerda estava do lado da despenalização.
Se bem me lembro, o progresso social e, porque não?, ético das nações ainda é um valor da esquerda moderna. Terão mudado os desafios e, como tal, as respostas, mas ainda é de esquerda a luta por uma sociedade com menos gravidezes adolescentes, com menos crianças a crescer sem as estruturas e os bens que as ajudem a superar-se como cidadãos e como homens e mulheres. Ainda é de esquerda querer uma sociedade em que o aborto não faça sentido.

Mas há incoências entre o meu discurso e o que sinto.

Primeira incoerência: a mais teórica.
Esta sacralização do sexo é baseada no facto de ser o único meio aceite universalmente pelo qual a humanidade ainda brinca com o tempo e com o fim, essas piadas crueis. Tudo o resto é uma questão de fé.
Se não acho, portanto, que o sexo e o amor sejam apenas uma agradável coincidência, será que acho que o sexo só faz sentido numa situação de pleno amor? Incoerentemente, não. Acredito que possa fazer muito sentido o sexo pelo sexo. Nem sequer me vou tentar explicar, de tão óbvio que "o prazer pelo prazer" me parece. Mas é incoerente.

Segunda incoerência: a menos teórica.
Se sou contra a despenalização, então devia ser a favor da prisão para quem pratica e, mais ainda, para quem a realiza e não sou. Nem num caso, nem noutro.
Não podia estar mais longe de achar que uma mulher que aborta merece a prisão. Merece ajuda, muita, dependendo dos casos, obviamente. Não sou capaz de julgar quem faz um aborto porque tem que o fazer e não sou capaz de tolerar os ignóbeis números de mulheres que vão parar ao hospital por aborto feito em condições igualmente ignóbeis.

Por tudo isso, acabo transformado esta posta num pedido. Ainda não sei como vou votar e, estando hoje muito mais perto do sim do que alguma vez estive, acredito nas razões que me levaram a dizer não, esses 8 anos entretanto passados. No meio, o voto em branco, que não acredito que vá ser a minha resposta desta vez.

Por isso, façam-me o favor de discutir.

terça-feira, outubro 24

The Thin Red Line

Não sei se um zigoto é uma vida humana. Pergunto-me muitas vezes (umbiguisticamente claro) quando é que comecei a ser eu. Imagino sempre que eu comecei a ser eu no momento em que se soube que eu ia nascer. Não por ganhar uma existência física, real, mas porque desde esse dia fui importante, fundamental até (modéstia à parte), para toda uma pequena multidão de pessoas de que é feita a minha família.

Do mesmo modo, acredito, no dia em que souber que vou ser Mãe, o meu filho será o meu filho. E desta forma, quiçá de uma forma por demais conservadora e emotiva, não entendo, não compreendo e dificilmente aceito o aborto.

No entanto, há uma linha, muitas vezes ténue, entre aquilo que eu aceito e aquilo que é legal. Entre aquilo que eu entendo e aquilo que é legal.

Se me perguntarem se olho para alguém que faz um aborto como um criminoso, como alguém que deve pagar uma pena, não, não olho. Condeno a sua atitude, como condeno muitas outras. Mas dificilmente julgarei essa pessoa digna de um castigo imposto por lei, que deva ser posta de parte. Não acho que o aborto seja uma decisão que se tome de ânimo leve, nem que seja alguma vez um procedimento médico tão simples que não deixe sequelas psicológicas na mulher que o pratica. Que não seja em si, de certa forma, a pena daqueles que a ele recorrem.

Num mundo perfeito, poderiamos dizer a essas mães que não o querem ser, que cuidaremos desses filhos, que alguém os quer já, mesmo que sejam um zigoto apenas. Mas não podemos. E, chamada a decidir - se tratar da segunda via do cartão de eleitor a tempo - voto sim. Não pelo dramalhão dos "pobrezinhos", não apenas pela justiça social que permite a uns fazerem abortos em clínicas assépticas no estrangeiro e a outros remete para um vão de escada. Voto sim, de uma forma meramente emocional, intuitiva, talvez.

Exercício Criativo II

Sim. Tenho mais medo de um Irão nuclearmente armado do que de uns EUA nuclearmente armados. Sim. Prefiro que o Irão não tenha armas nucleares, pela simples razão que não confio nem um bocadinho naqueles que por lá vão mandando. A minha questão é apenas a seguinte, não deveria haver um apelo global ao desarmamento?

sexta-feira, outubro 20

Exercício Criativo

Não deveriam os "simpáticos inoperantes" chatear tanto a Coreia do Norte como os EUA por terem armas nucleares?

The rocket man

Kim Jong-il, o ditador da Coreia do Norte, o homem que alguém descreveu como "o vencedor da versão asiática do consurso de imitadores do Elvis", abraçou essa arte bem élvica das falinhas mansas.

Segundo o Xinhua Financial Network News, propaganda maoista em formato broadsheet, "Chairman Kim conveyed his sorry feelings about the nuclear test" a uma delegação chinesa enviada a Pyongyang, a Graceland do Sudeste Asiático.
O botaozinho vermelho estava ali a piscar e eu não resisti, terá explicado.

Kim ainda teve tempo para dizer que "if the United States makes concessions to some degree, so will we, be it either at the bilateral level or the six-party talks."
Ele já devia de saber que os Estados unidos não dialogam com terroristas... ou dialogam?

quinta-feira, outubro 12

Turquia

Não sei se foi a minha amiga turca ateia
que se ri do Ramadão enquanto encosta o cigarro à boca em plena luz do dia
que me disse, mas parece que
é mais fácil encontrar mulheres com véus nas ruas de Paris ou Bruxelas, do que propriamente nas ruas de Istambul.

Acho que, no compto geral, tivemos mais sorte que os turcos. Os europeus, quando viram os desgraçados dos emigrantes portugueses que viviam na França, na Bélgica e na Alemanha, decidiram inundar-nos de fundos de coesão.

Para mal dos pecados da minha amiga ateia, os emigrantes turcos não inspiram tanta caridade.

Primeiro Passo...


Orhan Pamuk, Prémio Nobel da Literatura

Para a entrada da Turquia na UE?

quarta-feira, outubro 11

Liberdade de Expressão

Expliquem-me outra vez a diferença entre matar uma jornalista russa e raptar uma jornalista italiana.