Está-me a irritar profundamente esta polémica acerca da interrupção de Sócrates ao discurso de Alegre. As televisões relatam a situação jocosamente, esquecendo-se de que a escolha de tirar a palavra a um e dá-la a outro foi inteira e exclusivamente sua. Ricardo Costa na SIC desresponsabilizou-se do ocorrido como se a culpa fosse menos sua do que do primeiro-ministro que decidiu falar sem que, eu saiba, tivesse obrigado alguém a ouvi-lo. Quem esteve a ver transmissão em directo, com certeza que reparou que os únicos a não serem interrompidos foram Mário Soares, que falou muito antes dos outros, e Cavaco, o último a discursar. De resto, todos os outros se sobrepuseram a alguém, e, por sua vez, foram destronados pela entrada de outro. Mas só o caso Sócrates-Alegre teve importância, porque Alegre, solitário, luta contra a feroz máquina partidária do PS. Como diriam os ingleses,
Give me a break. Quanto à explicação do porta-voz do PS, era escusada. Se foi por descuido, demonstra negligência. Mais valia que tivessem dito que a declaração do secretário-geral não tem que estar dependente de qualquer outra. Seria mais sério e eu não veria mal nenhum. Para mais, um discurso tão fantasticamente aborrecido e maçador como o de Alegre, não merecia outra coisa que o total desinteresse.
p.s.: Se Cavaco vai ser um bom presidente ou não dependerá do grau da sua intervenção na governação do país. Se não se souber restringir, e se se esquecer que o seu cargo não é executivo, poderá realmente criar instabilidade política. Caberá ao seu bom-senso evitá-lo. Outras implicações, ou, melhor, implicâncias, pertencem ao domínio dos gostos (e desgostos) pessoais.
João Lameira