Enquanto esperamos por outras participações, vou responder aos teus três pontos (do post
Não me quero alongar). O primeiro e o segundo terão a mesma resposta: Não te chamo faccioso por teres opinião, nem acho que estejas a faltar à democracia quando a expressas - isso seria simplesmente estúpido. O que me causa irritação é a tua ideia de que aqueles que não pensam como tu (quem votou Bush) são estúpidos ou atrasados mentais, que, como Michael Moore diria, precisam ser educados e iluminados. Essa linha de raciocínio é que não se enquandra bem dentro de uma democracia.
O teu terceiro ponto aborda a grande questão dos nossos dias, a mais importante e a que mais divergências vai causando, e que é, no fundo, o que andamos a discutir quando falamos de Bush, da América e etcs. Essa questão não se limita ao Iraque, é uma coisa muito maior. Tentarei explanar a minha opinião o melhor que posso:
O 11 de Setembro de 2001 pôs a nu um facto (não acho portanto que seja uma questão de opinião) - existe um grupo de pessoas que pretende a aniquilação do nosso modo de vida, não se trata de uma discordância, mas sim de um anátema. Os Estados Unidos da América não são uma coisa estrangeira, que não tem nada a ver connosco, europeus. Fazemos todos parte de uma cultura, de uma civilização, apesar das diferenças. Essa cultura é o resultado de muitos anos de História comum, de toda a barbárie de que fomos responsáveis, mas também do Renascimento, da Reforma, da Revolução Francesa, da separação entre Estado e Igreja, das revoluções liberais. Quem atacou a América (e logo Nova Iorque), atacará a Europa, porque o que vê de mal nela, verá de mal em nós.
O grupo de pessoas que nos ameaça pode ser uma minoria (duvido), contudo tem, ou está em vias de ter, a força necessária para almejar os seus objectivos. Penso que todos temos a consciência de como as massas populares (à falta de melhor termo) são volúveis, de como é fácil arregimentá-las. Temos os exemplos do comunismo e do fascismo para o provar. Nos países onde islamismo se confunde com o Estado, essa adesão é ainda mais fácil. E o ódio ao Ocidente (com a América à cabeça, por ser a face mais visível dessa mesma ocidentalidade) vai grassando.
Concordarás que existe este perigo, pelo menos. Segue-se a grande questão - como resolver este problema.
Tu advogas o diálogo, o compromisso, o pacifismo. E eu pergunto como é que se dialoga com o nosso assassino, como é que o fazemos entender que não nos deve matar. Será melhor ficarmos aprisionados nas nossas culpas e não nos defendermos, será melhor tentar ganhar algum proveito político (como a França pretende) e virar a cara à luta, será melhor fugir com o rabo à seringa como em 1938? Eu penso que não, que temos o direito de nos defender, de retaliar.
Provavelmente, porás em causa a acção no Iraque mesmo concordando com o anterior. Não se encontraram armas de destruição massiça, não há provas de relações entre o regime de Saddam Hussein e a Al-Qaeda. No entanto, e vendo as coisas de maneira pragmática, derrubou-se um ditador sanguinária e procura-se, com imensas dificuldades é certo, implantar um regime minimamente democrática (o que existe pouco naquela zona). Que mal há nisso, pergunto-te. Qualquer regime autoritário que, directa ou indirectamente, ponha em causa o nosso
modus vivendi é perigoso. E desse ponto de vista, o regime iraquiano era-o. Haverá outros, talvez de maior perigosidade, o que não exclui a ameaça deste. Para mais teremos, a partir de agora, posições estratégicas no seio da região, o que nos dá um outro espaço de manobra. Porque estamos em guerra, não esqueçamos.
João Lameira