terça-feira, junho 28

Monhés

Se eu fosse a comprar tudo o que os monhés me tentaram vender -
sei que isto vai relançar o debate do racismo no blog -
nesta altura era um gajo armado de máquina fotográfica Canon,
telemóvel Sendô de 3ª geração
e óculos Ray Ban a esconder a uma monumental pedrada...
Isto para não falar do brinco tremeluzente
e da quantidade de rosas de todas as cores que viriam a acompanhar.
Agora que penso no assunto...

não sei até que ponto tudo isto não constituiria uma melhora na minha imagem.


Miguel Maia

Maravilhas Lisboetas

Hoje na minha hora de almoço, sucedeu-me uma daquelas coisas que não esperava que me acontecessem a mim. Acho que, tirando raras e honrosas excepções, tenho um bom ar. Tipo, não tenho pinta de rufia ou de candongueira (gosto muito desta palavra). Ora, estava eu numa das mais belas artérias da nossa mui nobre cidade, num acto tão simples e singelo, curriqueiro mesmo, que é o de levantar dinheiro num qualquer multibanco, quando tudo aconteceu.

Aproximou-se de mim um senhor com ar de indónesio/filipino/cambodjano/paquistanês, de telemóvel em riste e falando, murmurando, qualquer coisa que não entendi. Pensei para mim mesma, que para ingénua não me falta nada, que o senhor tinha um daqueles telemóveis da tão falada 3G. Prometi a mim mesma não aderir à coisa, pois a modos que não me convencem a fazer figuras daquelas no meio da rua.

Bem, estava eu às turras com a minha memória e o código do cartão (sim, baralho-os sempre...), quando finalmente percebi que era comigo que o senhor, como já disse de nacionalidade assaz difícil de identificar, falava comigo (normalmente não sou tão estúpida, creio, mas estou com uma ressaca daquelas...).

Então que me queria ele, perguntam vocês já cansados da minha história. Ele queria vender-me um telemóvel topo de gama, que segundo as palavras dele, custava qualquer coisa como 500€ numa qualquer loja perto de sim. E eis que esta alma decerto caridosa, me oferecia aquela ode à mais alta tecnologia por 120€. Mais, quando disse que não podia, que era caro, que não tinha dinheiro (não fosse ele ainda levar-me o que acabara de levantar), o gentil homem fez-me ainda um desconto (que os saldos andem aí...): 50€ e não se falava mais no assunto.

Foi quando percebi, que o destino não estava comigo. Queria ajudar aquele humilde e honesto senhor a fazer uns trocos. Mas o grilo falante que habita dentro de mim voltou de férias nesse instante e lembrou-me que havia uma leve possibilidade do objecto de negócio ser roubado.

E assim morreu o negócio de uma vida. Da minha claro. Porque enquanto houver telemóvel para palmar, o meu amigo está servido...

sexta-feira, junho 24

Sem ser do contra

Concordo com ambos os posts abaixo (vá, oh vis criaturas que insinuam que estou sempre do contra, contorcei-vos de dor).

Sim, irrita-me a contestação. Irrita-me que sejamos um povo tão reaccionário e egoísta. Que não entendam que a situação e que cabe a todos - TODOS - participar na mudança.

Sim, também acho que o problema começa na educação e que esta deveria ser prioritária. Mas os resultados de uma política de educação só se registam no espaço de uma geração. Pelo que, olhar o problema de frente significa, melhorar a educação, sim, mas agir urgentemente na reforma da (mui pesada) máquina do Estado.

Tenho dito, que não tenho tempo para mais...

Parallax

É falso dizer (e nunca ninguém aqui o disse) que a esquerda democrática e a direita democrática têm pouco que as distinga. É um discurso recorrente, mas para mim é falso. O que acontece é que a esquerda moderada partilha as ideias da direita quanto à economia e o funcionamento do aparelho do estado (salvo algumas excepções, como as scuts e os hospitais público-privado, que fazem sempre as mesmas capas de jornal) e a direita reformista partilha as ideias da esquerda quanto às obrigações inalianáveis ao estado na correcção de desiquilíbrios e injustiças sociais.

Qual é a diferença, então? A diferença é tão subtil e tão forte como o Erro de Parallax.
Quem perdeu o tempo a estudar física e química e essas coisas (e nem era preciso ter perdido muito) sabe que sempre que se mede a quantidade de líquido numa proveta graduada, temos que colocar os olhos mesmo à frente da graduação, e não olhar de cima ou de longe para a proveta.
Por capilaridade, os líquidos sobem ligeiramente a parede da proveta e, se não descermos os olhos ao mesmo nível do líquido, vamo-nos deixar enganar por um erro de percepção.

Aqui acontece a mesma coisa. Todos sabemos qual é o problema, até sabemos o nome da solução. Só que alguns vêem o problema de longe ou de cima e, por isso, dão atenção à parte errada do que estão a ver. Eu prefiro olhar o problema de frente e ver exactamente do que se trata.

Não é que não concorde com o que o Arouca disse. Digo-o sem problemas: o Arouca tem razão. Só acho que falar de governos, ou de Portugal e o Futuro, sem falar da necessidade extrema de formar e principalmente educar os portugueses, leva rigorosamente a lado nenhum.
Se a educação em Portugal continuar a mesma, não há cortes de despeza ou ganhos na receita que resistam.
Tudo o resto é perder tempo e eu, que já perdi tanto, não vou perder mais.

Miguel Maia

quinta-feira, junho 23

No Meio

Não concordo com a perspectiva racista com que o arrastão foi abordado, nem com ressurgir de nacionalismos bafientos e sem sentido. Mas acho que (ainda) é dever do Estado proteger os cidadãos. De qualquer côr ou proveniência. Tanto eu tenho direito a poder estar na praia descansada, como o imigrante de leste a ter uma vida decente em Portugal, se assim o desejar. O que acontece é que o Estado não garante a segurança e bem-estar nem de uns, nem de outros. Acho que se não temos capacidade de bem integrar aqueles que acorrem ao nosso país em busca de uma vida melhor então deveriamos controlar a sua entrada e, em último caso, expatriá-los (não me parece bem escrito, mas whatever...). Na minha modesta opinião, deveria haver um consenso europeu sobre o que fazer a esta vaga de imigrantes. Tipo falar com granes empresas que os possam absorver. Exemplo: imaginem a fábrica da Mercedes na Alemanha. Faz um contrato em que se compromete a empregar (em condições similares às dos alemães) cidadãos de fora da UE. Tipo compromete-se a que 70% dos seus trabalhadores sejam de fora da UE. Aqueles que em Portugal deixassem expirar o visto, poderiam optar por ir para a Alemanha trabalhar para a Mercedes. Parece confuso, eu sei, mas pensem um pouco porque não tenho tempo para explicar melhor...

Arrastando o "arrastão"

Maia, parece que concordo contigo em quase tudo. Excepção feita ao mais importante, talvez. Eu sou a favor da globalização - ou seja da troca normal de bens e produtos entre mercados livres -, e não percebo como ela possa ser posta no banco dos réus no caso do tão célebre "arrastão". Os que perpetraram o dito não vivem no hemisfério Sul, habitam sim no nosso "cantinho" à beira mar plantado, como se usa dizer. Se sofrem de más condições, a culpa, se é que pode ser assacada a alguém, é quanto muito do nosso governo. E não porque ande a extorquir as ex-colónias (um disparate), mas porque não resolve os problemas dos seus cidadãos, dos imigrantes e, principalmente, dos seus filhos. Contudo, indago-me sobre o que é que pode ser feito de facto (e gostava de ver esta pergunta respondida por vós). Quero deixar aqui escrito que sou pela movimentação livre das gentes por todo o mundo - no dia que as fronteiras se fecharem politicamente a mais imigrantes, o caldo está muito entornado. Penso que para resolver este assunto, mais do que medidas drásticas, precisamos de sensatez e um pouco de tacto. E tenho a certeza que embicarmos nas supostas causas remotas da questão - os Descobrimentos, o colonialismo - não vai ajudar em nada.

João Lameira

quarta-feira, junho 22

Eu quis dizer:

1. Que não somos melhores que eles... o que não quer dizer que sejamos piores.
2. Que existem razões sociais profundas para os problemas da criminalidade... que não podem ser explicados com o facto de eles viverem como se estivessem na selva.
3. Que os cabo-verdianos não são maus nem por natureza, nem por formação... porque Cabo Verde é uma república pacata e pacífica.
4. Que não temos o direito de os expoliar sem o castigo exemplar que exigimos para os criminosos, impondo condições ao comércio internacional que são completamente injustas, se alguma vez percebermos que os povos do Hemisfério Sul não fizeram mal nenhum para não merecer a qualidade de vida que nós damos como adquirida... o que não quer dizer que os criminosos não devam ser presos e cumprir penas de prisão.

A repressão do crime é necessária e desejável, nunca o negarei. Eu prefiro pôr a ênfase nas causas do problema.

Tenho dito.

Miguel Maia

terça-feira, junho 21

Padrão dos Descobrimentos

O padrão mais recorrente dos descobridores portugueses era em tudo semelhante ao dos gangs que atacaram Carcavelos: reuníamo-nos todos sem eles saberem e depois aparecíamos de repente na praia, aos 50 de cada vez, mas com umas navalhas ligeiramente maiores.

Tínhamos a distinta lata de lhes palmar tudo.
Mais do que isso, ocidentais que somos, íamos ao âmago do âmago, num esforço filosófico (o classicismo estava em voga) de os meta-palmar. Convencionou-se chamar a esse esforço escravatura: acontece sempre que não se palma qualquer coisa a alguém, mas sim palmamos a pessoa di per se e passamos a chamá-la escrava.

Deve ser isso que nos distingue deles. Chamem-me racista, mas esse nível de requinte é algo que lhes parece estar vedado.

Miguel Maia

sábado, junho 18

Arrastão

Depois do arrastão que andámos a fazer em África durante 500 anos e a que se convencionou chamar Império,
não percebo como é que ainda surpreende o facto de haver pessoas que vivem em guetos que não são justos, marcadas de um estigma que não é justo
e que, depois, vão fazer coisas que não são justas.

Se há um movimento migratório do Sul e do Leste para o Ocidente,
é porque o Ocidente se alimenta da desigualdade económica que perpetua em relação ao Leste e ao Sul.
No dia em que os preços impostos pela Organização Mundial do Comércio das matérias primas vindas dos países pobres deixarem de ser risíveis, talvez esses movimentos deixem de se justificar.

O problema é que o nosso défice passava de 6% para 60%
e nós não havíamos de querer ter que emigrar todos, pois não?

Miguel Maia (desculpem não ter assinado antes)

sexta-feira, junho 17

Cunhalices

Para acabar de vez com as discussões sobre a figura política que foi Álvaro Cunhal, o artigo de Vasco Pulido Valente no Público de hoje:

Portugal não se respeita
Parece que Álvaro Cunhal foi uma figura "importante, "central", "ímpar" do século XX português. Muito bem. Estaline não foi uma figura "importante", "central", "ímpar" do século XX? Parece que Álvaro Cunhal foi "determinado" e "coerente". Hitler não foi? Parece que Álvaro Cunhal era "desinteressado", "dedicado" e "espartano". Salazar não era? Parece que Álvaro Cunhal era "inteligente". Hitler e Salazar não eram? Parece que Álvaro Cunhal sofreu a prisão e o exílio. Lenine e Estaline não sofreram? As virtudes pessoais de Álvaro Cunhal não estão em causa, como não estão as de Hitler, de Estaline, de Lenine ou de Salazar. O que está em causa é o uso que ele fez dessas virtudes, nomeadamente o de promover e defender a vida inteira um regime abjecto e assassino. Álvaro Cunhal nunca por um instante estremeceu com os 20 milhões de mortos, que apuradamente custou o comunismo soviético, nem com a escravidão e o genocídio dos povos do império, nem sequer com a miséria indesculpável e visível do "sol da terra". Para ele, o "ideal", a religião leninista e estalinista, justificava tudo.Dizem também que o "grande resistente" Álvaro Cunhal contribuiu decisivamente para o "25 de Abril" e a democracia portuguesa. Pese embora à tradição romântica da oposição, a resistência comunista, como a outra, em nada contribuiu para o fim da ditadura. A ditadura morreu em parte por si própria e em parte por efeito directo da guerra de África. Em França, a descolonização trouxe De Gaulle; aqui, desgraçadamente, o MFA. Só depois, como é clássico, Álvaro Cunhal aproveitou o vácuo do poder para a "sua" revolução. Com isso, ia provocando uma guerra civil e arrasou a economia (o que ainda hoje nos custa caro). Por causa do PREC, o país perdeu, pelo menos, 15 anos. Nenhum democrata lhe tem de agradecer coisa nenhuma.Toda a gente sabe, ou devia saber, isto. O extraordinário é que as televisões tratassem a morte de Cunhal como a de um benemérito da pátria. E o impensável é que o sr. Presidente da República, o sr. presidente da Assembleia da República, o sr. primeiro-ministro e dezenas de "notáveis" resolvessem homenagear Cunhal, em nome do Estado democrático, que ele sempre odiou e sempre se esforçou por destruir e perverter. A originalidade indígena, desta vez, passou os limites da decência. Obviamente, Portugal não se respeita.

Se você é tão pouco comunista...

... mas porque é que não se cala com a merda do Álvaro Cunhal, ó sr Arouca???

quinta-feira, junho 9

Só mais uma pequena provocação...

A exemplo, aliás, do que eu vou fazer pela TSF, o João Lameira vai cobrir a noite dos Santos Populares para O Público.
Já viram a ironia??
Um manjerico??
A cobrir os Santos??

Miguel Maia

quarta-feira, junho 8

Gregos e Troianos

Eu, que quando saio de Portugal não me enfio no Brasil, mas tento ir para sítios melhores do que Portugal, conheço pessoas de muitos lados da Europa.
Não sou, decerto, o único... o palmarés da Joana Mil-homens nesse aspecto, por exemplo, é por demais reconhecido... mas nas minhas andanças encontrei um tipo grego, de seu nome Giorgios Mitsospoulos (Big G para os amigos) que, graças ao conflito latente que opõe o seu país à Turquia desde que a Grécia se separou (exactamente da Turquia), está colocado na fronteira Norte do país, de arma apontada ao lado de lá.
O interessante é que esse meu amigo conta que, nos dias de folga, desce até à aldeia fronteiriça e vai à tasca confratenizar (quem o diria possível) com os turcos!
Pois é, ele conta-me que os turcos (e no exército à turcos de todo o lado) e os gregos têm mais em comum que nós e os gregos, incomensuravelmente mais que os dinamarqueses e os gregos... e então os britânicos (qualquer um dos 4 tipos de britânicos) estão noutro planeta, quando comparados com turcos e gregos.

A teoria de que Israel devia entrar na União não é descabida. Talvez se mudasse o nome da União Europeia, para União de Comércio Livre, e a Europa passasse a ser o reduto que encontrasse semelhanças culturais suficientes para suportar um processo de integração política, por exemplo através de uma Constituição. Os nomes são o que menos me preocupa.

Esta história de integrar os países comercial e financeiramente parece ser a única forma sustentada de paz, capaz de pôr cobro a diferendos insolúveis... e não há, nem no Médio Oriente, diferendo mais insolúvel do que o que existia entre a França e a Alemanha, antes de tomarem a atitude inteligente de se obrigarem a um espaço comercial livre.
Já alguém dizia (não sei mesmo quem):
"Se querem paz na Jugoslávia; se querem paz entre Israel e Palestina... o melhor é mesmo fazê-los aderir à União Europeia!"
Se não lhe querem chamar Europeia e dar um nome menos melindroso...
by all means.

Miguel Maia

terça-feira, junho 7

E digo mais...

Da mesmo maneira que a Jugolávia devia ter feito parte, desde o início, do processo que culminou na abertura da União a Leste: A Turquia tem que entrar.
Hoje mesmo, o Primeiro-ministro Erdogan disse, no seu jeito pouco diplomático, que quer a adesão ou nada.
Pois, aqui, o critério é simples: ou a Turquia, depois de obedecer às condições, entra, ou o Primeiro-ministro Erdogan cai.
E entre a falta de jeito e a falta de diplomacia dos grupos mais radicais que o vão substituir se as negociações falharem; a Europa tem que escolher... a Paz.

Miguel Maia

Ainda a Europa...

A idiotice de dois ministros italianos ao declararem que o melhor seria mesmo pôr em causa o Euro e voltar à Lira, foi a gota de água. É verdade que eram dois ministros da Lega Nord, este partido que tem por lema "nós só estamos a dizer os que os outros só se arriscam a pensar", um lema, aliás, já usado pelo partido nazi na Alemanha dos anos 30... mas são dois Ministros! da República Italiana, os que se arriscaram a falar.
O grande problema do projecto Europeu é que não há termo de comparação. Ninguém pode saber o que seria da Europa, se a União não tivesse existido. O exercício de imaginação é mais do que fútil e leva invariavelmente à demagogia, mas há alguns exemplos interessantes.
Quem daqui sabe qual foi o único país do antigo bloco comunista que, à entrada para os anos 90', não recebeu fabulosas promessas de adesão, primeiro à NATO e depois à UE?
Tem uns segundinhos para pensar...
Foi a Federação Jugoslava, é verdade.
E se pensam que os Balcãs são diferentes, porque são um barril de pólvora étnico e religioso, deixem-me falar-vos da Hungria, com boa parte da população a viver na Jugoslávia!, ou na Austria; deixem-me falar-vos da Polónia, com Alemães, Russos, Checos e toda a sorte de povos a coexistir numa nação de menos de 100 anos; ou dos países bálticos, etc. etc. etc.
A Europa de Leste era (e ainda é) um gravíssimo barril de pólvora que não podíamos deixar de fora. A função da União é pormover a paz e o desenvolvimento, em benefício dos países mais pobres e à custa dos mais ricos. Os mais ricos precisam de perceber que, se assim não fosse, aquilo que perderiam seria incomparavelmente maior.

Miguel Maia